Uma história de luta por um lugar...na cama!

Era uma vez um Rei Tirano que nunca dormia nada de jeito, desde que nasceu (já lá vão quase dois anos). 

Os seus pais andavam em dívida para com o Óó, himalaias e himalais de dias, e já não sabiam para que lado se virar, pois fosse de barriga para baixo, de lado, no seu berço ou na cama dos pais, o pequeno bebé teimava em acordar, bater e pontapear os seus pais.

Houve um período em que até dormia na sua caminha, e seus pais ouviam as suas lamúrias quando dava cabeçadas nos pés da cama, prendia as mãozinhas nas grades ou simplesmente queria ser paparicado a meio da noite. Sua Alteza até a fingir que dormia dormir era hiperactivo e não havia cá protectores de grades que educassem o Rei a ter uma posição normal serena de dormir.

As noites eram sempre um inferno, pois esse menino acordava de hora a hora (numa boa noite, apenas acordava 2 vezes), e os seus pais acabavam por levá-lo consigo para a cama grande, onde pernoitavam encolhidos nas pontas. A parte inferior era geralmente ocupada por felinos munidos de armas afiadas e toda a área central estava sob a jurisdição da monarquia, que constantemente agredia a população.

Certo dia, os seus pais compraram Melamil, e esperaram que melhores noites viessem, mas inicialmente o que aconteceu foi isto aqui!

Mais tarde, com a continuidade da toma, a coisa começou a funcionar melhor, até o seu pai espetar com um frasco novo de Melamil no chão e partir-se todo. 

"- Ah, 17 euros assim aos cacos no chão... Deixa lá que ele agora também já não precisa mais disto", disse a sua mãe, condescendente.

Passaram-se meses de Outono e de Inverno, de Primavera, e atribuía-se as culpas das más noites, aos dentes, à febre, aos sonhos e à tosse que nunca deixava o bebé em paz.

Aos 19 meses, como não gostava de se sentir numa jaula (e os seus pais fartos que estavam de ouvir marteladas a meio da noite), o Rei foi agraciado com o título de "Emancipado das Grades". 

Foi então feita a Cerimónia da Emancipação, em que seu pai acorreu à garagem para buscar a nova trave e removeu a grade que separava o bebé do mundo dos grandes, esses que se podem pirar da cama quando bem entendem, qual muro de Berlim. Foi também introduzido um novo baú com brinquedos, e criada uma área de brincadeira no seu quarto. Uma mão cheia de chuchas era diariamente distribuída pela sua cama, para que nada lhe faltasse durante a noite e deixasse os seus pais dormirem em paz.

O Rei não queria acreditar! Pulava de contente na sua nova, velha cama, entrava e saía, rebolava no chão, experimentando o gostinho da liberdade. Agarrava uma chucha em cada mão, punha duas na boca ao mesmo tempo, enquanto tirava a bonecada de dentro do baú e lá guardava toda a espécie de objectos que furtava do resto da casa.

O chão era agora forrado de almofadas provenientes da sala, contendo vestígios de bolachas e iogurte nas suas fronhas, para que Dom Afonso se sentisse em casa, se porventura caísse da cama. 

Mas tanta fartura e opulência, tantos esforços para que Sua Alteza se sentisse confortável e visse o mundo no seu quartinho, toda a confiança depositada na suposição de que o rei dormiria quieto nos seus aposentos, foi em vão. As noites continuavam más!

Até que há duas noites atrás, os seus pais insurgiram-se contra a ditadura, rabujaram a meio da noite e reivindicaram os seus lugares de volta na cama, sem gatos nem bebés, sem tareias, pontapés ou choradeiras, sem unhas afiadas de gatos, em perseguição dos seus pés. Tudo a dormir como manda o figurino!

A história continua, a luta também. Na próxima temporada, "O Regresso do Melamil".

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