Eu tive!!! Baby blues...mas o que é isso?
Baby blues...Engraçado já ter 4 sobrinhos quando Sua Majestade nasceu (todos eles filhos das minhas manas, com quem tenho uma relação muito próxima) e nunca ter ouvido falar disto. Mas que raio? Andei completamente distraída, elas não sentiram tanto, ou eu estava a tantos anos-luz das coisas da maternidade que não me lembro de nenhuma me ter falado nisto...?
Eu sei que as hormonas na gravidez mexem muito com os neurónios e os sentimentos das futuras mamãs, mas estava longe de pensar que existisse uma coisa tão forte chamada "tristeza pós-parto". Ao longo dos meses em que o bebé vai crescendo na nossa barriga, a nossa cabeça e o nosso corpo vão-se preparando para os acontecimentos futuros, consciencializando-nos de que vamos ter um bebé e que a nossa vida vai mudar muito, de que vamos dormir muito menos e andar constantemente alerta.
Todas temos o sonho do dia em que saímos da maternidade e levamos o nosso pequenino para casa. E a pressa que os dois dias da praxe do parto normal passem é tanta e logo chegue a hora H!!!
Mas disso as minhas manas avisaram-me: "aproveita bem os dias na maternidade, para descansares e tira todas as dúvidas que tiveres, queixa-te de tudo quanto sentires, para que elas te ajudem!" ou "quando chegares a casa vais ter saudades de estares com as mordomias da maternidade e vais querer voltar!"
As consultas de enfermagem que acompanhavam as consultas de obstetrícia, mais para o final da gravidez, avisaram-me que seria normal que sentisse vontade de chorar por tudo e por nada, mas que passaria.
Também a minha amiga Bá, cerca de um mês antes do nascimento do Afonso, partilhou a sua experiência comigo e o que havia aprendido nas suas sessões de preparação para o parto, e avisou-me que existe uma coisa estranha, mas normal, chamada "tristeza pós-parto" ou baby blues.
Chegado o dia 22, em que tive alta e feliz que estava (apesar de me doer o corpinho todo e mal conseguir andar) deixei o ar condicionado do meu quarto e confrontei-me com os 30 e muitos graus sufocantes do mês de Agosto. Dali a minha casa seriam cerca de 10 minutos. O bebé estava todo vestido, de body de manga comprida e babygrow quente. O impacto daquele calor até chegar ao carro foi a primeira inquietação. Comecei logo a censurar-me por o bebé não estar vestido com roupa adequada para tamanha temperatura.
Entrando em casa, senti um bafo quente e parado e não havia luz natural. As janelas estavam todas fechadas e os estores corridos para proteger do calor. Começámos, eu e o marido, a arrumar as coisas e a tratar do bebé...mas...e agora?
Foi nesse instante que me caiu tudo! Uma tristeza imensa, uma insegurança profunda, uma responsabilidade enorme sobre os meus ombros, um cansaço extremo, uma incerteza inquietante no futuro, dores por todo o lado (inclusivamente a subida do leite e a amamentação), uma dor de alma inexplicável e um amor tão desmesurado, tão grande, que não era capaz de quantificar. Não sei se chorei na altura, se guardei para mais tarde. Não sabia se dormia, se comia, se dava de comer ao bebé, se ele dormia. Queria desaparecer ou voltar atrás no tempo, mas sabia que já não era capaz de viver sem aquele bebé e muito menos o poderia fazer!
Que coisa tão boa e tão má ao mesmo tempo! Durante dias e dias tinha ataques de choro só de olhar para o bebé, de pensar em como o mundo era lugar mau e eu não o podia proteger de tudo (apesar de querer fazê-lo), de como ele merecia uma mãe melhor do que eu, alguém que soubesse tratar dele porque eu não sabia. O medo de falhar era tão, tão grande, quase tão grande quanto o meu amor, porque estavam directamente ligados.
Falei com muitas pessoas: irmãs, sogra, marido, avó, enfermeiras e sei-lá-mais...parece que era normal e que passaria. Lembrei-me do que a Bá me tinha dito, mas aquilo que estava a sentir parecia mil vezes pior!
Não me lembro de quanto tempo levou até que voltasse ao meu estado normal. Mas as primeiras duas semanas, e talvez o primeiro mês foram muito difíceis. Na verdade acho que nenhuma conversa nos prepara para isto, não obstante a importância de que estejamos de sobre-aviso. Quando temos um bebé somos invadidas por um turbilhão de sentimentos e responsabilidades que nos transcendem e desafiam tudo quanto julgávamos que éramos capazes.
Se este estado se prolongar, dará lugar a uma depressão pós-parto. Muitas mulheres não passam por isto, tal como muitas não têm enjoos na gravidez. Mas muitas passam e não admitem, outras admitem mas é desvalorizado.
O mais importante: tentar descansar, pedir ajuda para realizar as tarefas a pessoas em que confiamos e com quem nos sintamos confortáveis...falar muito e não esconder o que sentimos, tratar do nosso bebé como sabemos, porque só o tempo nos ensina a tratar dele e a conhecê-lo...e viver o dia-a-dia, pois o mais provável é que o descontrolo hormonal comece a estabilizar dentro de uma semana, assim como a interiorização da nossa nova condição, a condição de mamã!
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